quarta-feira, 10 de abril de 2013



Jurema Catimbó

Jurema


Conhecido desde meados do século XVII, o Catimbó resulta da fusão entre as práticas de magia e rituais indígenas de pajelança. O Catimbó não é afro, não é Candomblé e não é a Umbanda como se conhece. Catimbó não é uma religião ou seita, e sim um culto, uma vez que não se encontram nele os elementos estruturados que são característicos, como fundamentos religiosos próprios, com liturgias e dogmas. A semelhança com a Umbanda é devido ao trabalho com entidades incorporadas dentre elas, a presença de Zé Pelintra que é dito como Mestre. Também se trabalham com Caboclos e Pretos Velhos esporadicamente. Conforme a região do culto, algumas influências africanas podem ser notadas, porém de forma limitada. O lugar onde o Catimbó e mais conhecido é no nordeste brasileiro. O caboclo, o sertanejo nordestino, analfabeto, mas curioso e inventivo com as suas coisas, foi juntando, daqui e dali, usou orações, fórmulas, mandingas e segredos, e passou a usá-los em seu próprio benefício. O Catimbó, portanto nasceu espontaneamente, com um sincretismo forte e natural do uso e costumes nordestinos. A Jurema é uma árvore nativa do agreste e sertão nordestinos, do qual se fabrica uma bebida psicoativa de mesmo nome. Tal bebida é composta por uma variedade de ervas, ao qual se adiciona cachaça ou  vinho branco. A ingestão da Jurema, em conjunto com os toques, as cantigas rituais do catimbó, provoca um estado de transe profundo, interpretado pelos Catimbozeiros, como a incorporação dos Mestres da Jurema. Estas entidades espirituais, que habitariam o Mundo Encantado, ou Juremá, teriam sido adeptos do Catimbó que, ao morrerem, se "encantaram", ou seja, foram transportados a este estado espiritual, de onde poderiam atender os vivos pela realização de curas e aconselhamento através da incorporação. A origem do termo Catimbó é controversa, embora a maior parte dos pesquisadores afirme que deriva da língua tupi antiga, onde “ca” significa floresta e “timbó” refere-se a uma espécie de torpor que assemelha-se à morte. Desta forma, Catimbó seria a floresta que conduz ao torpor, numa clara referência ao estado de transe ocasionado pela ingestão da Jurema. Subordinados aos mestres, encontram-se as entidades conhecidas como Caboclos da Jurema. Esta forma de espírito ancestral, representa os pajés e guerreiros indígenas falecidos, envidados ao Mundo Encantado de forma a auxiliarem os Mestres na realização de boas obras. Os Caboclos são sempre invocados no início do culto, antes mesmo da incorporação seus superiores. Estes seres espirituais seriam os responsáveis pela prescrição de ervas medicinais, banhos e rezas que afastariam o mau-olhado e o infortúnio. Algumas pessoas falam que antigamente Jurema era uma coisa e Catimbó era outra, sendo totalmente distintos. Porém com o passar dos anos, estas duas práticas se uniram, formando assim a Jurema Catimbó.

Exu e Pomba Gira


Exu e Pomba Gira são guardiões, são entidades responsáveis pela disciplina e ordem no ambiente. São entidades de pouca luz, que se encontram em evolução, e conhecem profundamente certas regiões do submundo astral e são temidos pela sua rigidez e disciplina. 
São espíritos que já encarnaram na terra.  Na sua maioria,  em encarnações anteriores cometeram vários crimes ou viveram de modo a prejudicar seriamente sua evolução espiritual. Sendo assim estes espíritos optaram por prosseguir sua evolução espiritual através da prática da caridade,  incorporando nos terreiros de Umbanda.
 Apesar das imagens de Exus, fazerem referência ao "Diabo" (herança do Sincretismo religioso), eles não devem ser associados a prática do mal, pois como são servidores dos Orixás, todos tem funções específicas e seguem as ordens que lhe são passadas.  Dentre várias, duas das principais funções dos Exus são: a abertura dos caminhos e a proteção de terreiros e médiuns contra espíritos perturbadores durante a gira ou obrigações.   
Muitos acreditam que nossos amigos Exus são demônios, maus, ruins, perversos, que bebem sangue e se regozijam com as desgraças que podem provocar. Exú é neutro, quem faz o mal são os médiuns que utilizam os Exús para fazerem trabalhos que prejudiquem outras pessoas.
Na verdade o mal ou o bem é produto da vontade e da evolução do próprio homem e Exu está acima do bem e do mal, sentimentos esses pertencentes a evolução humana.
 São trabalhadores que se fazem respeitar pelo caráter forte e pelas vibrações que emitem naturalmente. Eles se encontram em tarefa de auxílio e são muito respeitados trabalhando à sua maneira para auxiliar o quanto podem. São temidos no submundo astral, porque se especializaram na manutenção da disciplina por várias e várias encarnações.
Temos que começar a mudar nossos conceitos de Exú e Pomba Gira. Temos que ver o Exu e a Pomba Gira como aquela polícia que guarda e toma conta das ruas, abrindo nossos caminhos e nos decarregando,  obedecendo sempre uma hierarquia de comando, que é o Exu chefe do Terreiro, e acima dele os guias chefes da Casa. Assim como devemos ter um conceito mais respeitoso do Exu, devemos também dedicar mais respeito aos trabalhos das Pombas Giras, deixando de encará-las como mulheres vulgares e da vida, que só vêm para arranjar casamento ou o que é pior, para desfazer casamentos. Isto é uma coisa absurda e vulgar. O trabalho da Pomba Gira é sério.  É também um trabalho de descarrego, de limpeza, de união entre as pessoas. De abertura dos caminhos da vida, seja do ponto de vista material, mental ou espiritual.
Entretanto cabe lem­brar, que o estágio evolutivo de Exu é inferior ao dos caboclos,e pretos-velhos, o que também não significa que não sejam evoluídos – ape­nas encontram-se num es­tágio abaixo. Sua energia é mais densa e sua vibração ou força de incorporação está mais próxima ou simi­lar à vibração da Terra, exi­gindo dos médiuns uma concentração diferenciada da que possam sentir ao in­corporarem um caboclo ou preto-velho. Fato é que, quanto mais evoluída for a entidade a ser incorporada, mais sutil será a incorporação e a energia sentida. 
É comum ouvir dizer que sem Exu não se faz nada. Isso se dá pelo fato destas entidades estarem frente aos combates es­pirituais, prestando defe­sa e proteção, e não são vingadores, traí­ras ou forças do mal, como a maior parte das lendas nos leva a pensar.

Alupandê!

Batuque

Orixás

Religiões afro brasileiras são todas aquelas que tiveram suas origens nas religiões tradicionais africanas que foram trazidas pelos negros africanos na condição de escravos. O Batuque ou Nação é uma de suas ramificações, tendo seu culto voltado aos Orixás. A principal característica do Batuque é o fato de o iniciado não poder saber, em hipótese alguma, que foi possuído pelo seu Orixá, sob pena de ficar louco. Na realidade o questionamento não está no problema da loucura como consequência, e sim no fato de que ao saber que se ocupa, a pessoa pode ceder a vaidade extrema e desta forma banalizar um princípio básico dos Orixás, que está na humildade e desapego material. Cada pessoa possui três Orixás protetores, da cabeça, do corpo e dos pés, sendo que todos possuem o orixá Bará nos pés, mudando apenas sua qualidade. No ato de fazer a cabeça, a pessoa dedica todo sua vida ao cuidado ao Orixá em troca de proteção do mesmo. Para sabermos quais serão os Orixás que regerão determinada pessoa, é necessário que seja feito um jogo de búzios. O Orixá novo não possui o direito de falar, só terá o mesmo quando por decisão do Babalorixá, a passar por um ritual fechado, que lhe dará o direito da fala. Quando o Orixá deseja subir (ir embora), é feito um ritual rápido para que ele seja despachado, devendo o Orixá ficar em "axêre", que é o intermédio entre o Orixá e o estado de consciência humana. Neste momento a pessoa age sob manifestação do Orixá, porém como criança, falando e agindo com infantilidade (neste momento todos os Orixás possuem o direito de falar), comendo doces, tomando refrigerantes e fazendo brincadeiras. Passado o período necessário, o axêre deita no ombro de algum filho próximo e entra em um sono profundo para logo depois  acordar como em um susto.
Os Orixás cultuados no Batuque em sua maioria são doze: Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Odé, Otim, Ossanhe, Obá, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá. O culto aos Ibejis varia de acordo com a Nação, sendo que em algumas são associados e considerados como qualidades de Xangô e Oxum.
As obrigações no Batuque são constituídas por fases divididas: o serão, a festa de batuque e a levantação. Na primeira semana realiza-se o amaci, o bori e a festa de batuque. Na segunda semana é feito o serão de quatro-pés e por fim realiza-se a festa de batuque com a mesa de Ibeji. Neste dia, são distribuídos mercados  (bandejas contendo todo tipo de culinária dos Orixás) significando a divisão da fartura e da prosperidade com os participantes da festa. Finalizando esta primeira fase ritual, é realizada a terminação com a obrigação de peixe. Na segunda- feira é feita a apresentação do iniciado à cidade, o passeio. Pela manhã bem cedo se vai ao mercado, a praia, e por fim tem o café da manhã que é tomado na casa de um irmão de religião mais velho ou na casa de outro Babalorixá.

Amaci ou Mieró
Após jogada e confirmada nos búzios a cabeça e as passagens do filho, é feito o amaci, que é  um ritual feito com ervas específicas de cada Orixá, maceradas na água onde o Babalorixá lava a cabeça do filho que fará a obrigação.

Bori de aves
Após o amaci, na próxima obrigação serão sacrificadas as aves específicas de cada Orixá. Nesta obrigação o filho estreita sua relação com o Orixá, tendo em uma manteigueira, denominado de Bori, a representação de sua cabeça ligada ao seu Orixá, através de uma moeda, búzios e mel, tornando-se assim um filho da Religião.

Bori de quatro-pés
É uma graduação de maior estreitamento com seu Orixá.  Nesta obrigação, além das aves, serão sacrificados nos ocutás, (pedras colocadas em uma vasilha de barro com as ferramentas de cada Orixá, que será a sua representação) também os animais de quatro patas referentes a cada Orixá.

Obrigação do Peixe
São sacrificados aos Orixás peixes vivos, pela manhã cedinho, e somente depois que as obrigações de quatro-pés forem levantadas. O peixe varia de acordo com o Orixá a receber a obrigação, e sua quantidade varia de acordo com o axé de número do mesmo.

Aprontamento de Ofá (búzios) e Obé (faca)
Nesta obrigação em que o filho se prepara para ser um Babalorixá, consiste em assentar em cada vasilha todos Orixás de Bará até Oxalá. O filho então, além de ter seus três Orixás principais, passa agora a ter todos os outros com nome e sobrenome (digina), assentados. O futuro “pronto” preparará também neste ritual, sua faca, que futuramente usará em sacrifícios para seus filhos, além de ter o axé de búzios, ferramenta esta que usará para guiar a sua vida e dos seus, quando tiver montada sua casa de religião.

A Festa do Batuque
Após as obrigações cumpridas e encerrada a levantação (nome dado ao término das obrigações, quando serão levantadas todas as frentes que ficaram em um determinado tempo dentro do quarto de Santo), será tocada a festa, o Batuque. O Babalorixá, ajoelhado em frente ao quarto de santo, juntamente com todos seus filhos e demais convidados, toca o adjá, fazendo a chamada de todos os Orixás de Bará a Oxalá com suas saudações específicas, pedindo a cada Orixá as coisas que a eles competem. Terminada a chamada, o Babalorixá autoriza o tamboreiro a começar o toque. Todos que estão na roda dançam conforme as características de cada Orixá ao qual está sendo tocada a reza.

Dentro da festa existem rituais específicos que chamados de “Axé”:
Axé da Balança:
Se a obrigação que originou a festa teve o corte de quatro-pés, deverá ser realizada dentro das rezas para Xangô, a obrigação da balança. Neste ritual participam só os prontos (filhos que possuem a obrigação de quatro-pés), que dançam de mãos dadas, todos de frente para o centro da roda, onde será tocada pelo tamboreiro a reza específica para este axé. Então todos começarão um movimento de abrir e fechar esta roda, acompanhando o toque do tambor que irá acelerando gradativamente e com as mãos bem seguras, pois se arrebentar a balança, deverá ser pedido misericórdia para Xangô para que nenhum filho venha a morrer. Neste momento se manifesta um grande número de Orixás e todos deverão se manter de mãos dadas até que o tamboreiro encerre a reza.

Axé do Ecó:
O ecó é uma mistura de certos ingredientes oferecidos aos Orixás para servirem como imãs de energias negativas onde é  limpado e retirado da casa todas as impurezas e vibrações negativas. São oferecidos ecós para os Orixás Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Oxum, Iemanjá e Oxalá. Após o axé do ecó, que será realizado após as rezas de Xapanã, começa o toque para os Orixás mais velhos, ou doces: Oxum, Iemanjá e Oxalá, terminando assim a festa.

Os filhos prontos no batuque são identificados por suas guias de proteção, sendo que sua autoridade religiosa é caracterizada pela guia imperial, um colar de miçangas com as cores correspondentes de todos os Orixás, ou seja, o assentamento de todos. Normalmente o Batuque começa a meia-noite e estende-se até as seis ou sete horas da manhã, isto também é uma influência dos escravos, já que os negros na época da escravatura podiam fazer seus rituais somente após terminados seus trabalhos para os seus senhores, ou esperar com que eles fossem dormir. Não é costume o uso de paramentas no Batuque, geralmente as mulheres usam saia e bata e os homens um tipo de bombacha bem larga e uma kafta, além das guias.
No mínimo uma vez por ano são feitas homenagens com toques para os Orixás, mas as festas grandes (obrigações de quetro-pés) são de quatro em quatro anos. Esta obrigação serve para homenagear o Orixá dono da casa e dos filhos que ainda não possuem seu próprio templo. A data é geralmente a mesma que o Babalorixá teve assentado seu Orixá, a data de sua feitura.