segunda-feira, 17 de junho de 2013

Umbanda e Assistência



Qual o papel de fato da Umbanda na vida das pessoas que freqüentam seus rituais e ao mesmo tempo, qual deve ser a postura de uma pessoa enquanto participante da assistência em um ritual de Umbanda. Estas duas questões, guardam íntima relação entre si.
A primeira questão tenta descobrir como as pessoas que participam de assistências de cultos de Umbanda, vêem esses cultos e a própria Umbanda. O que destes cultos e das vivências neles apreendidas, elas levam para suas vidas quotidianas? Como essas pessoas se definem em termos de religião?
É certo que não podemos generalizar. Assim como em qualquer coletividade, também em uma assistência estarão presentes pessoas com pensamentos, anseios e posturas diferentes. Mas a questão que se impõe é se é necessário que essas pessoas tenham um mínimo de conhecimento do que é a Umbanda e seus cultos. E se realmente precisam enxergar a Umbanda como religião e até mesmo como a religião delas. Uma premissa muito importante enunciada pela Umbanda é que não se deve negar ajuda a ninguém. Assim, partindo deste princípio não podemos cobrar de uma pessoa que se ela freqüenta os cultos de uma casa de Umbanda, ele se declare como Umbandista.
Sabemos que a Umbanda ainda sofre de muitos preconceitos, e que decorrente disso muitas pessoas que freqüentam cultos de Umbanda têm medo de serem rotulados pejorativamente. Também pela origem multifacetada da Umbanda e também pela premissa de ajudar a todos, não podemos e nem devemos proibir a participação de irmãos oriundos de outros religiões. Por outro lado, podemos considerar que a falta de identificação pode causar uma falta de compromisso. Por isso talvez, sejam tão comuns as queixas sobre pessoas da assistência que vão às sessões de Umbanda apenas para “pedir coisas” mas não honrem as sessões com comportamentos condizentes com os de uma casa religiosa, ou seja, vestem-se de maneira imprópria, conversam em momentos inoportunos, entre outras coisas. Algumas pessoas apenas visitam uma casa de Umbanda quando estão com problemas. Isso significa que não fazem da Umbanda uma opção religiosa constante. Utilizam as sessões de Umbanda como “fast-food de consulta”, isto é, quando precisam, vão até lá, pedem o que precisam e vão embora abandonando o local até que a próxima necessidade os faça regressar.
Outras há que vão apenas aos dias de festas. Elas podem estar encarando a Umbanda como uma bonita manifestação da “cultura popular brasileira”, ou seja, uma atração turística ou ainda “coisa para inglês ver”. Visitam, acham bonito, mas não apreendem o real significado da religião praticada ali. A outra questão, também de extrema importância, é o que a participação da assistência contribui para a sessão. Uma assistência participativa tem o mesmo resultado para uma sessão do que uma assistência apática? O que é mais interessante para a Umbanda, uma assistência ignorante sobre os conhecimentos ou uma assistência consciente do que são os rituais e dos porquês destes rituais. Essas duas questões estão inter-relacionadas porque que quanto mais as pessoas que compõem uma assistência estão integradas no culto, mais elas respeitarão este ritual, participando ativamente dele, entendendo como e porque devem se comportar a cada momento.Elas entenderão melhor que a religião não se pratica somente dentro dos templos, mas em todo o lugar. Elas aprenderão que também elas têm a responsabilidade de fazer a caridade e semear a paz e amor ao próximo.

Umbanda do Futuro

Uma das mais importantes notícias da semana foi muito pouco divulgada: o governo americano destinará três bilhões de dólares ao estudo das sinapses  que ocorrem em nosso cérebro, mapeando o que ocorre a cada memória que temos, a cada informação que recebemos. Dentro de dez anos poderemos desvendar um pouco do quem somos, além de ter condições de ter uma infinidade de possibilidades de cura. Enquanto isto não acontece,gostaria de levá-los a uma tempestade mental, digna de uma filha de Yansã.
Lendo "O Dogma de Cristo" de Erich Fromm, publicado em 1930 as minhas sinapses quase entraram em colapso. Não é um livro que discute o aspecto espiritual, mas faz uma análise psicossocial do fenômeno e não há como não traçar um paralelo com a Umbanda. Nos primeiros cem anos do cristianismo, a religião era praticada pelos membros de classe mais baixa, de forma quase secreta, pois a perseguição que sofriam era muito grande. A comunidade era unificada apenas pelo laço comum da fé,esperança e amor, o que os dava uma liberdade de ação, pela despreocupação com instituições e fórmulas. Naquela irmandade cristã primitiva era comum a assistência econômica e o apoio mútuos, que foi essencial para o desenvolvimento da religião.Como se sentiam peregrinos e estranhos na terra, não havia necessidade de instituições permanentes.Não é o posto que faz a pessoa, mas a pessoa que prestigia o posto.E eles não precisavam disto.
A princípio o cristianismo foi uma atitude revolucionária, contra a pressão e opressão dos governantes, e do próprio judaísmo que era dividido em castas e elitizado. A partir do seu segundo século o cristianismo começou com o apoio de pessoas de pessoas mais intelectualizadas e com mais poder econômico. Aos poucos os governantes começaram a ver no cristianismo também uma excelente ferramenta de controle da população que acreditava que só por bons atos se chegaria ao paraíso espiritual. Assim começou a formação de uma hierarquia centralizada, começaram a formular questões de ordem e ingresso, fazendo que muito se perdesse ao longo de todos estes séculos da idéia original.
A idéia original da Umbanda é que o acesso ao mundo espiritual e do mundo espiritual para nós pode ser feito de maneira simples e direta. Uma religião de consolo, de luta e de cura. Uma religião em que os desvalidos, o que estão à margem da sociedade não ficariam sem uma palavra, uma mão forte que os elevasse. Nasceu justamente no seio do espiritismo que apregoava um nível intelectual mais alto para se ter acesso aos seres de luz. 
Nos primeiros 100 anos da Umbanda, fomos perseguidos, ameaçados, presos. Nos unimos em fé, caridade e esperança e ultrapassamos o primeiro século a salvo. Mas o que será de nós nos próximos cem anos? Preocupa-me de sobremaneira a possibilidade de acreditarmos que precisamos de uma hierarquia unificada, que por consequência será ditatorial. Hierarquia dentro de um terreiro é essencial, até por uma questão de segurança e organização, mas com limites no entendimento de seu poder. Não podemos nunca esquecer que a maioria das entidades que nos protegem foram escravos de alguma forma, para que hoje nos passem noções de liberdade real. A verdadeira beleza da Umbanda está na multiplicidade de rituais e a possibilidade que nos dá de servi-la onde ela nos chamar. E se há este "chamamento" é porque através do nosso potencial, poderemos agir de uma forma mais consistente na fé, caridade e amor ao próximo. Somos todos iguais e podemos ser livres se tivermos a consciência das limitações que temos ,assim como as têm também nossos pais e mães de santo, para podermos continuar vivenciando uma religião com alegria e vida longa. Saravá!

LENDAS



LENDAS
Bará 1
Bará, sabedor de que uma rainha fora abandonada pelo esposo, procurou-a, entregou-lhe a faca e ordenou-lhe que cortasse alguns fios da barba do rei, dizendo “traga-me esses fios de barba que lhe farei um amuleto que trará seu real marido de volta”.
Mas Bará também procurou o filho do rei, e disse ao príncipe que o rei irá partir para uma guerra e pedia seu comparecimento á noite, ao palácio acompanhado dos seus guerreiros.
Finalmente, Bará foi ao rei e disse-lhe: ”a rainha, magoada com sua frieza, deseja matá-lo para se vingar. Cuidado esta noite!”.
E a noite veio. O rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo depois a rainha aproximar uma faca na sua garganta. Ela seguia as instruções de Bará, e queria apenas um fio da barba do rei, mas ele acreditou que a esposa deseja sua morte e ambos lutaram.
O príncipe que chegara ao palácio com seus guerreiros, escutou os gritos e correu aos aposentos dos pais.
Chegando e vendo o rei com a faca na mão, pensou que ele queria matar sua mãe.
Por seu lado, o rei ao ver o filho chegar com seus guerreiros, acreditou que eles desejavam matá-lo. Gritou socorro. Seu guarda acudiu e houve grande luta.
Massacre generalizado.


Bará 2
Bará fazia arruaça nas ruas. O rei então resolveu prendê-lo, porém ele fugiu e após alguns anos e morreu.
Após sua morte quando iam fazer axés vinte e um negros morriam.
Procurado o Babalaô, ele leu os búzios, e escutou a voz do Bará dizendo: “se me derem o sacrifício por primeiro não desaparecerão mais os pretos da seita”.
Desde então todo axé inicia com a toada à Bará. O primeiro sacrifício também é seu.


Bará 3
Por vingança por não haver recebido certas oferendas, quando Oxalá foi enviado por Olodumaré, o deus supremo, para criar o mundo. Bará provocou uma sede tão imensa que Oxalá bebeu vinho de palma em excesso.


Bará 4
O rei de Congo tinha três filhos, Xangô, Ogum e Bará. Este último não era exatamente um mau rapaz, mas era muito malicioso e turbulento, brigão e lutador.
Depois de sua morte sempre que os africanos faziam um sacrifício aos espíritos, ou celebram uma festa religiosa, nada dava certo, as preces dirigidas aos Deuses não eram ouvidas, os rebanhos foram dizimados pelas epidemias, as colheitas secaram sem produzir frutos, os homens caiam doentes.
O Babalaô consultou os obis e estes responderam que Bará tinha ciúmes que queria sua parte nos sacrifícios. Como as desgraças não pararam, continuando a assolar a todos, o rei voltou a consultar o Babalaô. A resposta foi a mesma: Bará quer o privilégio de ser servido em primeiro lugar.
Mas quem é esse Bará? Como? Não vos lembrais mais dele? –Ah sim, aquele pretinho tão amolante.
A partir deste dia toda oferenda é precedida de ofertório para o Bará.


Bará
Certo homem tinha duas esposas, que eram amadas e tratadas iguais, modelo de harmonia conjugal e familiar, todos comentavam que jamais alguma coisa poderia perturbar a felicidade de toda família.
Bará escutou e tomou como desafio. Assim, esquematizou uma armadilha de modo astuto e usual. Fez um filá muito bonito, transformou-se num comerciante e tomou cuidado de não vender a ninguém, até que aparecesse uma das esposas para comprá-lo.
Uma delas apareceu, comprou e levou para presentear o marido. O marido gostou tanto que não pode esconder o contentamento, o que despertou o ciúme na outra esposa. Esta porém foi atrás de Bará, o mercador e adquiriu um melhor ainda mais que primeira esposa.
Como a intenção do Bará era aguçar a rivalidade, e já estava, conseguindo fez mais uma venda para cada uma e sumiu, criando na casa daquela família grande confusão.



Oiá 1
Os ojés se tinham como os todos poderosos sobre os eguns, fazia-os aparecer e desaparecer, obrigando-os a satisfazer todos os seus desejos sem o consentimento de Oiá. Sabendo disto, Oiá resolveu pregar uma peça nos ojés.
Vestiu-se de Egum e saiu pela floresta.
Vendo aquilo os ojés pegaram os ixãs e saíram em sua perseguição de repente Oiá viu um buraco na terra e ali entrou. Os ojés disseram: ele entrou por aqui e por aqui tem que sair. Ali ficaram até o anoitecer e quando, ao longe, ouviram o ilá de Oiá perceberam no alto da montanha que ela tirava a roupa de Egum. E desde aquele dia só com o consentimento de Oiá pede-se qualquer coisa para Egum.


Oiá 2
Não tendo facilidade em conceber, Iansã procurou um Babalaô. Ele revelou que se fizesse sacrifício conseguiria concebê-los. Alertou ainda que a causa do problema era o desrespeito ao seu regime, onde era proibido comer carne de carneiro.
Como pagamento, o sacrifício seria 18 mil búzios, a própria carne de carneiro e uma quantidade de panos coloridos.
O Babalaô deu-se ao preparo de um remédio utilizando-se da carne de carneiro e os panos como oferenda.
Para sua glória, deu-se a luz a nove filhos que na numerologia tornou-se o axé de Iansã.
Tornando-se mãe, passou a ser tratada pelo nome de Oyá como Mésan – “a mãe dos nove filhos”.


Oxum
Oxum era rainha de um grande e rico território. Este foi invadido pelos Ionis, atraídos pelo renome dessa riqueza fabulosa. Triunfaram da rainha, apoderaram-se da capital, saquearam o país, tomaram conta da fortuna da soberana.
Oxum, para não ser aprisionada, foi obrigada a fugir aproveitando a escuridão da noite; subiu numa jangada e dirigiu a Deus oração fervorosa. Depois, sob inspiração divina, pediu para seus súditos que preparassem abarás e os deixassem nas margens. Quando os invasores chegaram a beira da praia, estavam famintos; precipitaram-se sobre os abarás e os comeram.
Dentro não havia veneno, e sim, força divina – axé -. Todos caíram mortos. E assim Oxum pode retomar posse, ao mesmo tempo, de sua fortuna e de seu território. Daí por diante, devido a vitória tomou o nome de Oxum-Ioni.


Xangô
Conta-se que Xangô, quando pequeno teve uma queda, sendo obrigado a andar de muletas, durante sete anos. No peji de muitos Candomblés são encontradas em lugar condignos as muletas de Xangô, e observe que tendem a tomar a forma do machado duplo, símbolo de Xangô.


Oxum e Xangô
Mesmo depois e casado com Oxum, Xangô continuou indo a festas, a fazer farras aventuras com mulheres. Oxum queixava-se de solidão, e brigavam. Ela era muito dengosa. Por isso ele a trancou na torre do palácio de Xangô.
Um dia Bará dono da encruzilhada veio para uma encruzilhada defronte ao palácio de Xangô.
Viu a Oxum chorando e perguntou o porquê. Ela contou e ele foi dizer a Orumilá. Este preparou um Axé mandou dizer a ela que deixasse a janela aberta. Ele soprou o pó que entrando pela janela, transformou Oxum numa Pomba.
Ela voou para a casa do pai e aí ele a transformou de novo.
É por isso que determinada Oxum não come pomba.


Oiá e Xangô
O carneiro andava difamando Oiá, dizendo ser ela infiel a Xangô. Todos debochavam dela e tudo ela suportava.
Sempre que podia Oiá subia a colina e reclamava a Orixalá, ele procurava lhe acalmar e aconselhava que bebesse água para acalmar-se, e ela descia a colina. Várias vezes Oiá seguiu o conselho de Orixalá. Certa vez ao descer a colina, ela não mais suportou, e ao ouvir cochichos e risadas, olhou para a aldeia e soprou seus ventos, destruindo tudo.
O carneiro foi a Xangô e contou sua versão, Xangô ficou furioso.
Oiá indignada viu passar uma carroça carregando palhas. Oiá ali se escondeu e ao passar pelas terras de Omulú saiu coberta de palhas e todos lhe deram passagem. E na terra de Omulú, Oiá invocou os mortos e ordenou que fossem atrás de Xangô. Vendo tal exército Xangô fugiu.


Ifá e Iemanjá
Ifá, o adivinho, passeava junto com os Barás, quando avistou outro cortejá, onde se destacava a beleza de uma mulher.
Ifá ficou assombrado diante de tanta beleza e mandou um dos Barás perguntar quem era ela. Ela disse que era Iemanjá, rainha e mulher de Oxalá. Bará voltou a presença de Ifá e disse quem era ela.v Ela mandou novo recado dizendo querer vê-la em seu palácio. Ela não aceitou de imediato, mas um dia foi falar com ele.
Não se sabe bem o teor da conversa, apenas que ela engravidou de Ifá.
Quando nasceu a criança Ifá chamou Bará pra verificar se Omolei tinha um caroço, sinal ou mancha na cabeça, indício certo de ser mesmo filho dele.


Iemanjá e Odé
Conta-se que Iemanjá fora alertada por um Babalaô para não deixar Odé ir para o mato pois poderia se perder e ter conseqüências desastrosas. Iemanjá alertou Odé; teimoso não deu ouvidos.
Como avisara o Babalaô, Odé se perdeu e foi recolhido por Ossaim, que se afeiçoou a Odé, vestindo-o de penas e deu-lhe arco e flecha e ensinou-lhe manejo.
Iemanjá quando sentiu falta do seu filho começou a procurar com a colaboração de Ogum.
Odé foi encontrado, mas não queria retornar, e quando voltou, continuou a usar arco e flecha.


Iansã e Oçanhe
Ossaim é o dono das folhas, ervas e plantas sagradas, possuidoras de axé. De certa feita Iansã para agradar Xangô, que queria e reivindicava suas folhas, fez soprar forte vento, dispersando os axés de Ossaim.
Houve então uma grande correria aos Orixás atrás das ervas de Ossaim.
Ossaim não gosta de vento, lembra Iansã varrendo suas folhas.


Odi e Ifá
Odi discípulo de Ifá, desde pequeno tinha características de ser muito nervoso. Ao lado de Ifá, manifestara-se como de caráter misterioso, pois estava sempre afastado nas aldeias.
Nas aulas mostrava-se se muito inteligente, foi ele que esclareceu a divisão dos andróginos em homem e mulher, momento em que elas se outorgaram, como atributos, a menstruação e a maternidade, inato ao homem. A eles foi dado o sêmen, a partir do qual consumou sua união e conseguiu a partir desse fato procriar, como recurso para perdurarem a espécie.
Devido a essas respostas, Orumilá outorgou-lhe a primazia de comandar a formação do gênero humano.


Oxalufã e Bará
Oxalufã vivia com Oxaguiã em seu reino, como sentia-se muito velho e próximo o seu fim resolveu visitar o seu outro filho, Xangô.
Como de costume antes de viajar Oxalufã consultou com o Babalaô, que desaconselhou a viagem, dizendo que havia risco de morte. Oxalufã não se intimidou e quis uma solução, quer seja através de oferenda ou procedimento.
O Babalaô, fez as oferendas e recomendou que na viajem não poderia recusar a ninguém o menor serviço durante todo o trajeto e jamais se queixar.
No caminho Oxalufã encontrou três vezes Bará que lhe pediu sucessivamente para ajudá-lo a carregar na cabeça uma barrica de azeite-de-dendê, uma carga de carvão e outra de óleo de amêndoas, as três vezes Bará derramou o conteúdo sobre o velho. Mas Oxalufã, sem se queixar, continuava a caminhada.
Penetrando finalmente no reino de Xangô avistou o cavalo deste, que tinha fugido e, capturou-o para devolvê-lo ao proprietário, Xangô. Mas os servidores pensaram que Oxalufã era um ladrão, julgando-o pelo aspecto (sujo de azeite-de-dendê, carvão e óleo); caíram sobre ele, quebraram-lhe os braços e pernas à pauladas, atirando-o finalmente numa prisão.
Nela permaneceu sete anos. O reino de Xangô virou em caos. As mulheres tornaram-se estéreis, as colheitas minguaram. Xangô triste e aflito buscou ajuda consultando um Babalaô, e este revelou que todas as desgraças provinham do fato de um inocente estar sofrendo injustamente na prisão.
Xangô ordenou que os prisioneiros comparecessem diante dele, reconhecendo seu pai.
Vestiu os escravos de branco sem falar em sinal de tristeza e ordenou que fossem lavar Oxalufã numa fonte vizinha.
Como tinha mãos e pernas quebradas Oxalufã foi lavado, roupa trocada, perfumado e carregado de volta ao reino e grandioso banquete foi servido pelo retorno do Pai.


Oxum, Ogum e Xangô.
Oxum estava casada com Ogum, mas Xangô a tinha visto e se enamorado dela; seguia-a por toda a parte, esperando o momento de a encontrar à sós num local deserto. O dia chegou e Xangô excitado por tão longa espera, precipitou-se dobre ela para violentá-la.
Os caminhos pertencem a Bará, e Bará surgiu a fim de separar o par amoroso.
Mas não o fez.


Oxum, Odé e Obaluaê.
Oxum conheceu o príncipe Odé, cuja delicadeza e a finura a cativaram, acabaram se casando.
O casamento foi muito festejado, mas assim que começaram a vida íntima, Oxum começou a compreender mais profundamente os pensamentos do esposo. Ele queria construir uma cidade destinada a abrigar odadis ealakuatás (homossexuais masculinos e femininos).
Já erguida a cidade, nasceu Logum, uma criança hermafrodita.
Horrorizada abandonou a cidade dos odadis.
O jovem ficou ali e foi o primeiro a ajudar Oxumaré.
Enquanto isso Oxum fez uma viagem em busca de Iemanjá, irmã de sua mãe.
Oxum ofereceu a sua irmã e aos sacerdotes Iorubás a ir buscar Ogum que estava recluso na mata desde que perdera a disputa com Xangô por causa de Oyá.
Retornando ao palácio de Iemanjá, depois da festa de boas vindas Ogum e Oxum conheceram Obaluaiê, homem já de certa idade mas de aspecto majestoso e viril. Oxum e Obaluaiê casaram-se e partiram para a terra de jejes onde Obaluaiê era rei.


Ifá, Oxum e Elegbá.
Ifá era um pobre pescador que vive miseravelmente. Fez um dia contrato com Elegbá, comprometendo-se a lhe servir de escravo devotado durante dezesseis anos. Elegbá enviou-o a floresta buscar coquinhos-de-dendê e ensinou-o a prepará-los para a adivinhação. Mas chegava tanta gente para consultá-lo que Ifá teve necessidade de uma mulher que se ocupasse de sua casa, tomou afetebi, que não era outra senão Oxum.
As pessoas que não conseguiam chegar a ver o próprio Ifá pediam a Oxum que fizesse favor de tirar a sorte para elas.
Então Oxum se queixou ao marido de que não conhecia a arte de ler o futuro e, depois de muita insistência, Ifá tomou dezesseis coquinhos, preparou-os e pediu a Elegbá que respondesse por intermédio deles à perguntas feitas por Oxum.
Elegbá aceitou de má vontade, e se hoje realmente responde às questões das afetebis em represália persegue os filhos de Oxum com mais furor ainda do que os filhos de outros Orixás.


Xangô, Iansã, Oxum e Obá.
Xangô tinha três mulheres Iansã, Oxum e Obá. Oxum a preferida e Obá em abandono. Desejando Xangô mais com ela pediu ajuda a Oxum, que maliciosa disse possuir um feitiço mágico, escondendo a cabeça num turbante para não ser descoberta a mentira, disse que cortara a orelha para cozinhá-la no caruru de Xangô. Ao comer seu prato predileto, este último contraia com ela perpétua aliança.
Ao preparar o prato de seu marido, Obá cortou então a orelha, cozinhou-a, mas Xangô assim que pôs uma colherada na boca, chamou Obá para saber o que continha a comida, pois o gosto era ruim.
Obá chegou com o rosto desfigurado, ainda ensangüentado, em prantos.
Xangô explode de ira, e expulsa sua terceira mulher, para deleite de Iansã e Oxum.


Nanã, Obaluaiê e Iemanjá.
De volta de uma de suas viagens á África. Nanãburuquê deu a luz a um menino, Obaluaiê.
Verificando, a seguir que seu filho tinha adquirido a lepra, não quis saber dele e o abandonou.
Iemanjá, irmã de Obaluaiê apiedou-se do irmão e resolveu tomar conta dele.
Criou Obaluaiê dando-lhe pipoca com mel. Cuidava de suas feridas com dendê.


Xapanã
Certo dia quando os deuses estavam reunidos em uma festa no palácio de Obatalá, Xapanã tentou tomar parte nas danças instigado pelos outros Orixás que sabiam que Xapanã era manco não conseguia dançar como os demais.
E foi o que aconteceu, Xapanã, tropeçou e caiu.
Todos debocharam e o humilharam.
Por vingança infectou a todos com a varíola, sendo Obatalá obrigando a pô-lo fora do castelo usando sua espada de fogo.


Pemba
Contam as lendas das tribos Africanas o seguinte sobre a PEMBA.
M. PEMBA era o nome de uma gentil filha de SOBA LI-U-THAB. SOBA, poderoso dono de grande região e exercendo a sua autoridade sobre um grande número de TRIBOS.
M.PEMBA estava destinada a ser conservada virgem para ser ofertada às divindades da TRIBO, acontece porém que u jovem estrangeiro audaz, conseguiu penetrar os sertões da ÁFRICA, e se enamorou perdidamente de M. PEMBA.
M.PEMBA por sua vez correspondeu fervorosamente a este amor e durante algum tempo gozaram as delícias que estão reservadas aos que se amam.
Porém não há bem que sempre dure, o SOBA poderoso foi sabedor destes amores e uma noite de luar mandou degolar o jovem estrangeiro e jogar seu corpo no RIO SAGRADO U-SIL para que os crocodilos o devorassem.
Não se pode descrever o desespero de M. PEMBA e para prova de sua dor esfregava todas as manhãs o seu lindo corpo e rosto com o pó extraído dos MONTES BRANCOS KA-BANDA e a noite para que seu pai não soubesse dessa sua demonstração de pesar pela morte de seu amante, lavava-se nas margens do RIO DIVINO U-SIL.
Assim fez durante algum tempo, porém, um dia pessoas de sua tribo que sabiam desta paixão de M. PEMBA, e que assistiam ao seu banho viram com assombro que M. PEMBA elevara-se no espaço ficando em seu lugar uma grande quantidade de massa branca lembrando um tubo.
Apavorados correram a contar ao SOBA o que viram, este, desesperado quiz mandar degolar a todos, porém, como eles houvessem passado nas mãos e corpo pó deixado por M. PEMBA, notaram que a cólera do SOBA se esvaia e tornando-se bom não castigando os seus servos.
Começou a correr a fama das qualidades milagrosas da massa deixada por M. PEMBA e com o nome simples de PEMBA atravessou esta, muitas gerações chegando até nossos dias prestando grandes benefícios àqueles que dela se têm utilizado.


O tema era para ser o aborto, ou seja, a interrupção voluntária ou involuntária de uma gravidez. Mas, quando comecei a pensar em escrever este assunto imediatamente me veio uma pergunta:

quando o espírito desencarnado se liga à matéria? Quando este espírito se liga à mãe e ao embrião? No momento da concepção, no feto ou no nascimento?



Diante destes questionamentos decidi escrever primeiro sobre o processo de reencarnação: a gravidez e a ligação do espírito à nova vida material.Logicamente que deste tema teremos como base a compreensão que a Umbanda é uma religião espiritualista e assim acredita na vida após a morte, na sobrevivência do espírito após a morte carnal, e na existência do ciclo das reencarnações, ou seja, acreditamos na existência de múltiplos nascimentos e desencarnes.

Para a Umbanda a encarnação, e assim a reencarnação, é a oportunidade sagrada e abençoada de um espírito esquecer seu passado delituoso, seus inimigos, suas desavenças, e de encontrar situações semelhantes às vividas no passado com outra roupagem, uma segunda (terceira, quarta, etc.) chance. Enfim, um método divino de crescimento e iluminação espiritual.



A reencarnação, portanto, é a porta para a nossa remissão, é um dos momentos em que nosso trabalho espiritual se depara com situações semelhantes, que um dia falhamos, para que nossos espíritos aprendam a arte do amor, do perdão, do desapego e da solidariedade, ao mesmo tempo em que aprende a não ser egoísta, orgulhoso, etc.

Diante disto, fica claro que, para nós, a reencarnação é uma oportunidade muito importante para a nossa evolução espiritual, um dos grandes instrumentos para o burilamento espiritual e um caminho intensivo de libertação.

A porta de entrada desta oportunidade é a gravidez. Ou seja, quando em situações normais um homem e uma mulher realizam um ato sexual e o espermatozóide consegue fertilizar o óvulo. Ou, em situações laboratoriais, um cientista introduz um espermatozóide em um óvulo, e depois insere o embrião dentro do útero feminino.

Entendendo que é a gravidez, e assim o nascimento, a porta de entrada para a oportunidade da reencarnação, pergunta-se: quando este espírito reencarnante começa a se fixar no novo corpo?
Os espíritos responsáveis pelo mecanismo da reencarnação (a meu ver trabalhadores de Omolu/Obaluaê) se aproximam da mãe e do pai e apresentam em sonho o novo filho. Estes espíritos começam a viver juntos para que a energia de todos se harmonize a facilite a concepção. (Não se preocupem o momento da relação sexual é um momento privado os espíritos não ficam assistindo)

Após a relação sexual milhares, centenas de milhares de espermatozóides iniciam seu trajeto em busca do óvulo. Em geral apenas um consegue perfurar o óvulo e fecundá-lo.
Por que aquele espermatozóide, no meio de tantos milhares, foi o que fecundou o óvulo? Muitos dirão que ele foi o mais rápido, o mais forte, o que chegou primeiro ao óvulo. E estes vão descobrir que a ciência já demonstrou que não é o primeiro a chegar ao óvulo, nem mesmo o aparentemente mais forte é o que fecundará. O fato de ser este ou aquele espermatozóide que perfurará o óvulo é aleatório.

Mas será que é aleatório? Ou será que aqueles espíritos que estão trabalhando na reencarnação não dão uma “ajudinha” no espermatozóide que trará a herança genética mais apropriada para a nova vida que surgirá?

Será que a escolha deste espermatozóide não obedece a uma lógica que facilitará o aparecimento de doenças, de deficiências, de qualidades, de atributos que virão ao encontro dos propósitos deste novo reencarnante?

Eu acredito que sim, há uma escolha, uma facilitação para que o espermatozóide mais apto a trazer este conjunto de genes que propiciarão as tarefas e as missões que o espírito deverá passar aconteça.

Se você já começou a concordar comigo já percebeu que antes mesmo da fecundação, ou seja, da existência de um embrião, há a aproximação do espírito que irá reencarnar, pois a própria seleção do espermatozóide vencedor se dá para que a missão daquele espírito reencarnante aconteça nos moldes traçados pelos Orixás.

Para contribuir para o entendimento deste pensamento: por inúmeras razões kármicas a pessoa deveria nascer portadora de uma deficiência física, deveria ser portadora de algumas doenças genéticas, ser médium, ser alto, ser baixo, ter problemas em determinados órgãos, ser mais apto as ciências exatas, mais apto nos reflexos, ser esportista, não ter um órgão, ter um dom, ter um QI elevado ou reduzido, etc. Como é que isto é feito para garantir uma reencarnação adequada à evolução daquele espírito?

Começa, em minha opinião, na escolha do espermatozóide e do próprio óvulo, pois são eles que carregarão a herança genética e assim um conjunto de atributos e características físicas.
Mas, você não concorda comigo, afinal você não gosta de genética, não acredita na escolha do espermatozóide, ou simplesmente não ficou convencido. Vamos então seguir entendendo que o espermatozóide que perfurou o óvulo foi fruto de uma ação aleatória.

O espermatozóide ao adentrar no óvulo se funde ao mesmo criando o ovo, o embrião. Este ovo é uma célula que imediatamente começa a se dividir, se divide de forma frenética, de uma única célula em pouco tempo já são milhares de células.

Nesta divisão celular, em que já se tem o embrião, há a presença do futuro encarnado? Já se iniciou a ligação entre este espírito e seu futuro corpo? Se você como eu acredita na escolha do espermatozóide a resposta já está dada, mas se você não acredita tem que concordar que neste momento o espírito tem que estar presente.

Porque tem que estar presente? Porque nestas divisões celulares começa-se a criar o novo ser. E assim algumas células serão o sistema nervoso, outras os ossos, e assim por diante. Logicamente aqui também já se começa a propensão para os defeitos e para as aptidões. Se este novo ser tiver que ser portador da síndrome de Down, já no início das divisões celulares há a duplicação de um par de cromossomos. Se ele terá uma perna muito mais curta que a outra, se ele tiver um cérebro dotado para as artes plásticas, etc., tudo já começa na divisão e na especialização das células no embrião. Somente com a presença deste espírito é que as características de sua vida serão traçadas.

Imagine se fosse o contrário. Se a mãe gerasse um feto que não tivesse as mãos. No momento do nascimento os espíritos iriam buscar um espírito para encarnar com estas condições? Seria aquele que estivesse passando por perto? Seria alguém sem nenhuma ligação com a família? Não, certamente que não, pois esta deficiência terá uma razão de reparação kármica para o novo encarnado e para a sua família e não um ato caótico sem razão.

Neste argumento começamos a perceber que os novos encarnados têm uma relação com a família, seja ela de amizade, de amor, ou mesmo de inimizade, ocasião em que a reencarnação permite o resgate entre estes espíritos.

Além dessas razões vamos a outras: depois de nosso reencarne teremos a aparência muito semelhante a que possuímos atualmente. Para renascermos devemos abrir mão desta forma e adotarmos a forma de um bebê. Como isto se processa? De uma hora para outra? Um choque? Certamente que isto faz parte de um processo em que junto com o desenvolvimento do feto vamos nos adaptando a nova forma física, vamos nos religando a matéria, pouco a pouco, de forma gradual. Vamos criando uma ligação com a matéria e vamos entrando em uma espécie de sono, suspendendo nossa memória, esquecendo nosso passado, nossa última reencarnação, ou nossas últimas reencarnações, para que possamos iniciar tudo de novo e termos a oportunidade de aprender novamente.

Neste processo vamos recebendo o impacto da energia de nossas mães, de nossos pais e de nossos familiares. Já está provado pela ciência do homem encarnado que as alterações emocionais, psicológicas da mãe afetam o desenvolvimento físico e mental do filho. Psicólogos estão defendendo teses em que alguns traumas psicológicos são trazidos de momentos traumáticos e tensos durante a gravidez. E estas pessoas não são espiritualistas, ou seja, não acreditam nas reencarnações, mas acreditam que a personalidade pode começar a se formar no útero materno. Se a personalidade começa no útero (para nós é uma sequência de vidas) é certo que o espírito já estava ligado ao feto, uma vez que a personalidade não é material, e sim espiritual.

Com todas estas informações e estes argumentos quero demonstrar que tenho uma convicção que a ligação do espírito reencarnante na matéria começa muitas vezes antes da própria concepção, e sempre começará ou seguirá no momento imediato da fecundação do óvulo pelo espermatozóide.

Este tema permitirá que possamos debater o aborto e outras práticas provocadas durante a gravidez. Mas isto é assunto para outro artigo.

Fiquem a vontade para questionar, discordar, debater. O tema traz para nós muitas dúvidas, e como sempre os guias nos falam: as dúvidas devem servir para enraizar nossa fé. Portanto fico a disposição para discutirmos o tema.


Saravá


Autor: Pai Caetano de Oxossi
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Recentemente, em alguns sites e em alguns encontros, pairou sobre a nossa comunidade umbandista o debate, já realizado diversas outras vezes, sobre o homossexualismo, em especial sobre a possibilidade da celebração do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Umbanda, ou como preferem alguns se a Umbanda poderia, ou deveria, abençoar estes relacionamentos.

Antes de falarmos de casamento é preciso compreender, ou buscar entender, como a Umbanda vê as questões do homossexualismo. Logicamente não sou eu quem dirá como a Umbanda pensa, afinal nem que quisesse teria este direito ou a capacidade de fazê-lo. Mas, posso dizer como a Umbanda que pratico, a Umbanda de nosso terreiro - Cabana do Pai Tobias de Guiné - vê, entende e ensina sobre este tema.

Quando falamos de homossexualidade imediatamente as mentes reduzem a questão a seus aspectos sexuais, ou seja, pessoas do mesmo sexo realizando práticas sexuais. Mas, a questão da opção sexual vai muito além da simples relação sexual, do coito propriamente dito.

A questão envolve a afetividade, a relação de atração, de amor a outra pessoa com a qual queremos nos relacionar, queremos construir uma vida em conjunto. É o amor conjugal, a que estamos nos referindo.

A questão começa ao pensarmos como vemos os espíritos. O espírito tem sexo? Nascemos um espírito masculino ou feminino? Em nossas inúmeras reencarnações sempre vestimos a carne com o mesmo sexo biológico?

Eu penso que reencarnamos em diversas roupagens materiais, hora em uma roupa biologicamente masculina, hora em uma biologicamente feminina. Entretanto, temos uma maior tendência em reencarnarmos em determinada roupagem.

Então será que quando reencarnamos na roupagem adversa ao nosso costume acabamos por sentir atração pelo mesmo sexo? Será esta a razão da homossexualidade? Os muitos espíritas (kardecistas) que conheço, e assim fui ensinado quando espírita, entendem que a homossexualidade é, entre outras teorias, como uma inversão dolorosa do sexo, ou seja, aquele espírito que teve inúmeras reencarnações como homem, e hoje encontra-se em um corpo de mulher teria atrações por outras mulheres. Apesar de simplificar esta definição, acredito que a tenha feito de forma apropriada, caso contrário por favor sintam-se a vontade em questioná-la.

Hoje já não tenho esta convicção. Acredito que estas questões sexuais, de opção sexual, estão muito atreladas a nossa cultura, aos nossos costumes. Na Grécia antiga muitos afirmavam que o único amor verdadeiro era o praticado entre os homens, as mulheres eram apenas procriadoras. Neste cenário todos os homens eram espíritos de mulheres em inversões dolorosas sexuais? Acredito que não.

Quando as pessoas julgam e tecem comentários sobre o homossexualismo acabam por gerá-los em função da prática sexual, como dissemos acima. Ou seja, o homossexualismo é feio porque dois homens ou duas mulheres buscam trocar carícias, buscam o prazer entre si.
Vejamos então a seguinte sentença: O sexo é para a procriação? O sexo é para a geração de filhos exclusivamente?

A resposta será não! O sexo, a relação sexual, quando feita com respeito pelo parceiro ou parceira, com amor, é uma relação que busca a troca de energias, de carícias, de prazer e também de sentimentos. Se o sexo tem esta natureza qual a diferença em ter uma relação com uma pessoa do mesmo sexo ou de sexo oposto? Na minha opinião, a diferença está na opção da pessoa, na natureza daquele espírito reencarnado que sente atração por este ou por aquele sexo.

Não estamos aqui falando de promiscuidade, de bacanais, etc., pois isto, independente se homossexuais ou se heterossexuais é uma prática que diminui a vibração, que traz obsessores e nos prende aos prazeres materiais, enfim, nos fragiliza e nos prejudica. Estamos aqui falando das relações que envolvem o sentimento do amor conjugal.

Assim, o que eu entendo é que não importa a sua opção sexual, não importa se você é um heterossexual ou um homossexual, o que importa é a tua vontade em seguir os passos de Jesus, de praticar a caridade, de amar toda a forma de vida, de buscar o fim do seu egoísmo, do seu orgulho, de sua raiva e de seu ódio. Importa que seu espírito trabalhe incansavelmente para a libertação própria e a iluminação de todos que lhe rodeiam.

Se você ama (no sentido conjugal, matrimonial do verbo) uma pessoa do mesmo sexo, ou uma pessoa do sexo oposto, deve apreciar este sentimento, deve ter com ele ou com ela uma relação de companheirismo. Buscar nesta pessoa aquela que dividirá com você as angústias e as alegrias da vida. Deus nos permite o casamento para isto; para trilharmos um caminho com outro espírito.

Ou seja, para mim, a Umbanda realiza os matrimônios, abençoa as relações não com a exclusiva intenção de colocar um macho e uma fêmea para procriarem, mas o faz para que dois espíritos possam, a partir daquele momento, dividir um só caminho. Como disse o Caboclo Mata Virgem em recente casamento em nossa casa:

“Até aqui vocês caminharam por caminhos próprios, estes caminhos se aproximaram, e hoje se unem. O que eram dois caminhos se torne um, o que eram duas chamas se torne uma.”

O matrimônio é um ato de amor, de união de espíritos para a consecução de seus objetivos com companheirismo. E é assim independente de um casamento hetero ou homoafetivo.
Neste sentido o nosso querido Preto-velho, Pai Tobias de Guiné, em recente consulta teceu o seguinte comentário:

“Vocês não param de ficar apegados a forma, ficam sempre querendo julgar um rio pela sua superfície. Dois espíritos se amam e querem compartilhar um mesmo caminho de vida, chegam a este terreiro e pedem uma benção, pedem para que realizemos seu casamento. Qual será a resposta?
Respondemos pelos espíritos ali presentes, ou vamos responder de acordo com a roupa que estão usando naquele momento? Para nós, falangeiros da Umbanda, não interessa a roupa, ou seja o corpo físico, interessa se estes espíritos se amam de verdade. Quando percebo isto, o amor, fico grato a Zambi, aos Orixás, por poder presenciar e atuar na benção deste casal.”

A homofobia e o preconceito pela opção sexual só atrasam a vida de todos, só trazem desarmonia, vibrações de ódio, e não de amor e de caridade. Neste sentido peço a todos que leiam o texto
Mais uma palavra sobre preconceito, o caso ali relatado é sobre o preconceito realizado a um homoafetivo.

Será que há qualquer justificativa espiritual para este tipo de preconceito?

Assim, a opção sexual, o fato de sermos homoafetivos (homossexuais), ou heteroafetivos (heterossexuais), não faz de nós diferentes, certos ou errados, pecadores ou não pecadores. O que nos torna melhores ou piores é o que fazemos em relação à vida, em relação às pessoas, em relação aos espíritos e a nós mesmos, ou seja, quão orgulhosos, quão egoístas, quão amorosos e caridosos nós somos. Isto é o que revela a nossa natureza e não as formas, e não as aparências.

Por fim quero fazer uma última reflexão:

Na época em que Jesus viveu encarnado o pior de todos os pecados era a da mulher adúltera, ou seja, a mulher que traia o homem. Para esta mulher a condenação era o apedrejamento em praça pública, e isto esta escrito na Bíblia (antigo testamento).

O que Jesus fez ao ver uma mulher adúltera sendo apedrejada? Levantou-a, e olhou para a multidão de julgadores e disse: “atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”. Ou seja, mesmo diante do maior pecado para seu povo, Jesus afirmou que jamais devemos julgar o nosso irmão ou nossa irmã. Com isso quero dizer que não interessa como você pensa a questão, se você concorda comigo, com a Umbanda, com os espíritas, com os demais cristãos, importa que pense como pensar, jamais julgue o seu semelhante, jamais se preocupe com o argueiro no olho do teu vizinho, e sim com a trave que cega a sua visão.

Jesus nos ensinou a amar incondicionalmente, amar a todos, até nossos inimigos, nossos queridos guias também ensinam isto para nós diariamente, vamos então praticar o amor incondicional. Ou seja, convencido da naturalidade das relações homossexuais, ou não, o que não podemos aceitar é que os umbandistas julguem, discriminem.

A Umbanda, para mim, não julga e não vê de forma anormal a homossexualidade, ou a heterossexualidade. Se esta pessoa é homo ou heterossexual, pouco importa, pois, todos somos espíritos iguais, filhos do mesmo pai, com livre arbítrio.

Para mim a Umbanda está preocupada e focada na elevação espiritual, na prática da caridade e no exercício do amor. Assim, para mim e para a Umbanda que pratico, o casamento, o matrimônio, ou a benção de casais acontece em virtude do amor conjugal, da parceria e do companheirismo, por isto, seja ele um casamento de pessoas do mesmo sexo ou de sexos biológicos diferentes, acredito que a benção, o sacramento pode e deve ser realizado.

Saravá a Umbanda, saravá o respeito e o amor entre todos os seres.