segunda-feira, 17 de junho de 2013



O tema era para ser o aborto, ou seja, a interrupção voluntária ou involuntária de uma gravidez. Mas, quando comecei a pensar em escrever este assunto imediatamente me veio uma pergunta:

quando o espírito desencarnado se liga à matéria? Quando este espírito se liga à mãe e ao embrião? No momento da concepção, no feto ou no nascimento?



Diante destes questionamentos decidi escrever primeiro sobre o processo de reencarnação: a gravidez e a ligação do espírito à nova vida material.Logicamente que deste tema teremos como base a compreensão que a Umbanda é uma religião espiritualista e assim acredita na vida após a morte, na sobrevivência do espírito após a morte carnal, e na existência do ciclo das reencarnações, ou seja, acreditamos na existência de múltiplos nascimentos e desencarnes.

Para a Umbanda a encarnação, e assim a reencarnação, é a oportunidade sagrada e abençoada de um espírito esquecer seu passado delituoso, seus inimigos, suas desavenças, e de encontrar situações semelhantes às vividas no passado com outra roupagem, uma segunda (terceira, quarta, etc.) chance. Enfim, um método divino de crescimento e iluminação espiritual.



A reencarnação, portanto, é a porta para a nossa remissão, é um dos momentos em que nosso trabalho espiritual se depara com situações semelhantes, que um dia falhamos, para que nossos espíritos aprendam a arte do amor, do perdão, do desapego e da solidariedade, ao mesmo tempo em que aprende a não ser egoísta, orgulhoso, etc.

Diante disto, fica claro que, para nós, a reencarnação é uma oportunidade muito importante para a nossa evolução espiritual, um dos grandes instrumentos para o burilamento espiritual e um caminho intensivo de libertação.

A porta de entrada desta oportunidade é a gravidez. Ou seja, quando em situações normais um homem e uma mulher realizam um ato sexual e o espermatozóide consegue fertilizar o óvulo. Ou, em situações laboratoriais, um cientista introduz um espermatozóide em um óvulo, e depois insere o embrião dentro do útero feminino.

Entendendo que é a gravidez, e assim o nascimento, a porta de entrada para a oportunidade da reencarnação, pergunta-se: quando este espírito reencarnante começa a se fixar no novo corpo?
Os espíritos responsáveis pelo mecanismo da reencarnação (a meu ver trabalhadores de Omolu/Obaluaê) se aproximam da mãe e do pai e apresentam em sonho o novo filho. Estes espíritos começam a viver juntos para que a energia de todos se harmonize a facilite a concepção. (Não se preocupem o momento da relação sexual é um momento privado os espíritos não ficam assistindo)

Após a relação sexual milhares, centenas de milhares de espermatozóides iniciam seu trajeto em busca do óvulo. Em geral apenas um consegue perfurar o óvulo e fecundá-lo.
Por que aquele espermatozóide, no meio de tantos milhares, foi o que fecundou o óvulo? Muitos dirão que ele foi o mais rápido, o mais forte, o que chegou primeiro ao óvulo. E estes vão descobrir que a ciência já demonstrou que não é o primeiro a chegar ao óvulo, nem mesmo o aparentemente mais forte é o que fecundará. O fato de ser este ou aquele espermatozóide que perfurará o óvulo é aleatório.

Mas será que é aleatório? Ou será que aqueles espíritos que estão trabalhando na reencarnação não dão uma “ajudinha” no espermatozóide que trará a herança genética mais apropriada para a nova vida que surgirá?

Será que a escolha deste espermatozóide não obedece a uma lógica que facilitará o aparecimento de doenças, de deficiências, de qualidades, de atributos que virão ao encontro dos propósitos deste novo reencarnante?

Eu acredito que sim, há uma escolha, uma facilitação para que o espermatozóide mais apto a trazer este conjunto de genes que propiciarão as tarefas e as missões que o espírito deverá passar aconteça.

Se você já começou a concordar comigo já percebeu que antes mesmo da fecundação, ou seja, da existência de um embrião, há a aproximação do espírito que irá reencarnar, pois a própria seleção do espermatozóide vencedor se dá para que a missão daquele espírito reencarnante aconteça nos moldes traçados pelos Orixás.

Para contribuir para o entendimento deste pensamento: por inúmeras razões kármicas a pessoa deveria nascer portadora de uma deficiência física, deveria ser portadora de algumas doenças genéticas, ser médium, ser alto, ser baixo, ter problemas em determinados órgãos, ser mais apto as ciências exatas, mais apto nos reflexos, ser esportista, não ter um órgão, ter um dom, ter um QI elevado ou reduzido, etc. Como é que isto é feito para garantir uma reencarnação adequada à evolução daquele espírito?

Começa, em minha opinião, na escolha do espermatozóide e do próprio óvulo, pois são eles que carregarão a herança genética e assim um conjunto de atributos e características físicas.
Mas, você não concorda comigo, afinal você não gosta de genética, não acredita na escolha do espermatozóide, ou simplesmente não ficou convencido. Vamos então seguir entendendo que o espermatozóide que perfurou o óvulo foi fruto de uma ação aleatória.

O espermatozóide ao adentrar no óvulo se funde ao mesmo criando o ovo, o embrião. Este ovo é uma célula que imediatamente começa a se dividir, se divide de forma frenética, de uma única célula em pouco tempo já são milhares de células.

Nesta divisão celular, em que já se tem o embrião, há a presença do futuro encarnado? Já se iniciou a ligação entre este espírito e seu futuro corpo? Se você como eu acredita na escolha do espermatozóide a resposta já está dada, mas se você não acredita tem que concordar que neste momento o espírito tem que estar presente.

Porque tem que estar presente? Porque nestas divisões celulares começa-se a criar o novo ser. E assim algumas células serão o sistema nervoso, outras os ossos, e assim por diante. Logicamente aqui também já se começa a propensão para os defeitos e para as aptidões. Se este novo ser tiver que ser portador da síndrome de Down, já no início das divisões celulares há a duplicação de um par de cromossomos. Se ele terá uma perna muito mais curta que a outra, se ele tiver um cérebro dotado para as artes plásticas, etc., tudo já começa na divisão e na especialização das células no embrião. Somente com a presença deste espírito é que as características de sua vida serão traçadas.

Imagine se fosse o contrário. Se a mãe gerasse um feto que não tivesse as mãos. No momento do nascimento os espíritos iriam buscar um espírito para encarnar com estas condições? Seria aquele que estivesse passando por perto? Seria alguém sem nenhuma ligação com a família? Não, certamente que não, pois esta deficiência terá uma razão de reparação kármica para o novo encarnado e para a sua família e não um ato caótico sem razão.

Neste argumento começamos a perceber que os novos encarnados têm uma relação com a família, seja ela de amizade, de amor, ou mesmo de inimizade, ocasião em que a reencarnação permite o resgate entre estes espíritos.

Além dessas razões vamos a outras: depois de nosso reencarne teremos a aparência muito semelhante a que possuímos atualmente. Para renascermos devemos abrir mão desta forma e adotarmos a forma de um bebê. Como isto se processa? De uma hora para outra? Um choque? Certamente que isto faz parte de um processo em que junto com o desenvolvimento do feto vamos nos adaptando a nova forma física, vamos nos religando a matéria, pouco a pouco, de forma gradual. Vamos criando uma ligação com a matéria e vamos entrando em uma espécie de sono, suspendendo nossa memória, esquecendo nosso passado, nossa última reencarnação, ou nossas últimas reencarnações, para que possamos iniciar tudo de novo e termos a oportunidade de aprender novamente.

Neste processo vamos recebendo o impacto da energia de nossas mães, de nossos pais e de nossos familiares. Já está provado pela ciência do homem encarnado que as alterações emocionais, psicológicas da mãe afetam o desenvolvimento físico e mental do filho. Psicólogos estão defendendo teses em que alguns traumas psicológicos são trazidos de momentos traumáticos e tensos durante a gravidez. E estas pessoas não são espiritualistas, ou seja, não acreditam nas reencarnações, mas acreditam que a personalidade pode começar a se formar no útero materno. Se a personalidade começa no útero (para nós é uma sequência de vidas) é certo que o espírito já estava ligado ao feto, uma vez que a personalidade não é material, e sim espiritual.

Com todas estas informações e estes argumentos quero demonstrar que tenho uma convicção que a ligação do espírito reencarnante na matéria começa muitas vezes antes da própria concepção, e sempre começará ou seguirá no momento imediato da fecundação do óvulo pelo espermatozóide.

Este tema permitirá que possamos debater o aborto e outras práticas provocadas durante a gravidez. Mas isto é assunto para outro artigo.

Fiquem a vontade para questionar, discordar, debater. O tema traz para nós muitas dúvidas, e como sempre os guias nos falam: as dúvidas devem servir para enraizar nossa fé. Portanto fico a disposição para discutirmos o tema.


Saravá


Autor: Pai Caetano de Oxossi
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Recentemente, em alguns sites e em alguns encontros, pairou sobre a nossa comunidade umbandista o debate, já realizado diversas outras vezes, sobre o homossexualismo, em especial sobre a possibilidade da celebração do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Umbanda, ou como preferem alguns se a Umbanda poderia, ou deveria, abençoar estes relacionamentos.

Antes de falarmos de casamento é preciso compreender, ou buscar entender, como a Umbanda vê as questões do homossexualismo. Logicamente não sou eu quem dirá como a Umbanda pensa, afinal nem que quisesse teria este direito ou a capacidade de fazê-lo. Mas, posso dizer como a Umbanda que pratico, a Umbanda de nosso terreiro - Cabana do Pai Tobias de Guiné - vê, entende e ensina sobre este tema.

Quando falamos de homossexualidade imediatamente as mentes reduzem a questão a seus aspectos sexuais, ou seja, pessoas do mesmo sexo realizando práticas sexuais. Mas, a questão da opção sexual vai muito além da simples relação sexual, do coito propriamente dito.

A questão envolve a afetividade, a relação de atração, de amor a outra pessoa com a qual queremos nos relacionar, queremos construir uma vida em conjunto. É o amor conjugal, a que estamos nos referindo.

A questão começa ao pensarmos como vemos os espíritos. O espírito tem sexo? Nascemos um espírito masculino ou feminino? Em nossas inúmeras reencarnações sempre vestimos a carne com o mesmo sexo biológico?

Eu penso que reencarnamos em diversas roupagens materiais, hora em uma roupa biologicamente masculina, hora em uma biologicamente feminina. Entretanto, temos uma maior tendência em reencarnarmos em determinada roupagem.

Então será que quando reencarnamos na roupagem adversa ao nosso costume acabamos por sentir atração pelo mesmo sexo? Será esta a razão da homossexualidade? Os muitos espíritas (kardecistas) que conheço, e assim fui ensinado quando espírita, entendem que a homossexualidade é, entre outras teorias, como uma inversão dolorosa do sexo, ou seja, aquele espírito que teve inúmeras reencarnações como homem, e hoje encontra-se em um corpo de mulher teria atrações por outras mulheres. Apesar de simplificar esta definição, acredito que a tenha feito de forma apropriada, caso contrário por favor sintam-se a vontade em questioná-la.

Hoje já não tenho esta convicção. Acredito que estas questões sexuais, de opção sexual, estão muito atreladas a nossa cultura, aos nossos costumes. Na Grécia antiga muitos afirmavam que o único amor verdadeiro era o praticado entre os homens, as mulheres eram apenas procriadoras. Neste cenário todos os homens eram espíritos de mulheres em inversões dolorosas sexuais? Acredito que não.

Quando as pessoas julgam e tecem comentários sobre o homossexualismo acabam por gerá-los em função da prática sexual, como dissemos acima. Ou seja, o homossexualismo é feio porque dois homens ou duas mulheres buscam trocar carícias, buscam o prazer entre si.
Vejamos então a seguinte sentença: O sexo é para a procriação? O sexo é para a geração de filhos exclusivamente?

A resposta será não! O sexo, a relação sexual, quando feita com respeito pelo parceiro ou parceira, com amor, é uma relação que busca a troca de energias, de carícias, de prazer e também de sentimentos. Se o sexo tem esta natureza qual a diferença em ter uma relação com uma pessoa do mesmo sexo ou de sexo oposto? Na minha opinião, a diferença está na opção da pessoa, na natureza daquele espírito reencarnado que sente atração por este ou por aquele sexo.

Não estamos aqui falando de promiscuidade, de bacanais, etc., pois isto, independente se homossexuais ou se heterossexuais é uma prática que diminui a vibração, que traz obsessores e nos prende aos prazeres materiais, enfim, nos fragiliza e nos prejudica. Estamos aqui falando das relações que envolvem o sentimento do amor conjugal.

Assim, o que eu entendo é que não importa a sua opção sexual, não importa se você é um heterossexual ou um homossexual, o que importa é a tua vontade em seguir os passos de Jesus, de praticar a caridade, de amar toda a forma de vida, de buscar o fim do seu egoísmo, do seu orgulho, de sua raiva e de seu ódio. Importa que seu espírito trabalhe incansavelmente para a libertação própria e a iluminação de todos que lhe rodeiam.

Se você ama (no sentido conjugal, matrimonial do verbo) uma pessoa do mesmo sexo, ou uma pessoa do sexo oposto, deve apreciar este sentimento, deve ter com ele ou com ela uma relação de companheirismo. Buscar nesta pessoa aquela que dividirá com você as angústias e as alegrias da vida. Deus nos permite o casamento para isto; para trilharmos um caminho com outro espírito.

Ou seja, para mim, a Umbanda realiza os matrimônios, abençoa as relações não com a exclusiva intenção de colocar um macho e uma fêmea para procriarem, mas o faz para que dois espíritos possam, a partir daquele momento, dividir um só caminho. Como disse o Caboclo Mata Virgem em recente casamento em nossa casa:

“Até aqui vocês caminharam por caminhos próprios, estes caminhos se aproximaram, e hoje se unem. O que eram dois caminhos se torne um, o que eram duas chamas se torne uma.”

O matrimônio é um ato de amor, de união de espíritos para a consecução de seus objetivos com companheirismo. E é assim independente de um casamento hetero ou homoafetivo.
Neste sentido o nosso querido Preto-velho, Pai Tobias de Guiné, em recente consulta teceu o seguinte comentário:

“Vocês não param de ficar apegados a forma, ficam sempre querendo julgar um rio pela sua superfície. Dois espíritos se amam e querem compartilhar um mesmo caminho de vida, chegam a este terreiro e pedem uma benção, pedem para que realizemos seu casamento. Qual será a resposta?
Respondemos pelos espíritos ali presentes, ou vamos responder de acordo com a roupa que estão usando naquele momento? Para nós, falangeiros da Umbanda, não interessa a roupa, ou seja o corpo físico, interessa se estes espíritos se amam de verdade. Quando percebo isto, o amor, fico grato a Zambi, aos Orixás, por poder presenciar e atuar na benção deste casal.”

A homofobia e o preconceito pela opção sexual só atrasam a vida de todos, só trazem desarmonia, vibrações de ódio, e não de amor e de caridade. Neste sentido peço a todos que leiam o texto
Mais uma palavra sobre preconceito, o caso ali relatado é sobre o preconceito realizado a um homoafetivo.

Será que há qualquer justificativa espiritual para este tipo de preconceito?

Assim, a opção sexual, o fato de sermos homoafetivos (homossexuais), ou heteroafetivos (heterossexuais), não faz de nós diferentes, certos ou errados, pecadores ou não pecadores. O que nos torna melhores ou piores é o que fazemos em relação à vida, em relação às pessoas, em relação aos espíritos e a nós mesmos, ou seja, quão orgulhosos, quão egoístas, quão amorosos e caridosos nós somos. Isto é o que revela a nossa natureza e não as formas, e não as aparências.

Por fim quero fazer uma última reflexão:

Na época em que Jesus viveu encarnado o pior de todos os pecados era a da mulher adúltera, ou seja, a mulher que traia o homem. Para esta mulher a condenação era o apedrejamento em praça pública, e isto esta escrito na Bíblia (antigo testamento).

O que Jesus fez ao ver uma mulher adúltera sendo apedrejada? Levantou-a, e olhou para a multidão de julgadores e disse: “atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”. Ou seja, mesmo diante do maior pecado para seu povo, Jesus afirmou que jamais devemos julgar o nosso irmão ou nossa irmã. Com isso quero dizer que não interessa como você pensa a questão, se você concorda comigo, com a Umbanda, com os espíritas, com os demais cristãos, importa que pense como pensar, jamais julgue o seu semelhante, jamais se preocupe com o argueiro no olho do teu vizinho, e sim com a trave que cega a sua visão.

Jesus nos ensinou a amar incondicionalmente, amar a todos, até nossos inimigos, nossos queridos guias também ensinam isto para nós diariamente, vamos então praticar o amor incondicional. Ou seja, convencido da naturalidade das relações homossexuais, ou não, o que não podemos aceitar é que os umbandistas julguem, discriminem.

A Umbanda, para mim, não julga e não vê de forma anormal a homossexualidade, ou a heterossexualidade. Se esta pessoa é homo ou heterossexual, pouco importa, pois, todos somos espíritos iguais, filhos do mesmo pai, com livre arbítrio.

Para mim a Umbanda está preocupada e focada na elevação espiritual, na prática da caridade e no exercício do amor. Assim, para mim e para a Umbanda que pratico, o casamento, o matrimônio, ou a benção de casais acontece em virtude do amor conjugal, da parceria e do companheirismo, por isto, seja ele um casamento de pessoas do mesmo sexo ou de sexos biológicos diferentes, acredito que a benção, o sacramento pode e deve ser realizado.

Saravá a Umbanda, saravá o respeito e o amor entre todos os seres.

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