Itã dos Orixás
Exu
Exu vivia no mundo, vagando de lugar em lugar até que foi para casa de Oxalá e por lá ficou durante 16 anos, observando e aprendendo como se faziam os seres humanos. Todos os outros Orixás também iam à casa de Oxalá, mas lá ficavam apenas por dias, talvez semanas. Exu não. Exu por lá viveu 16 anos e aprendeu tudo com Oxalá. Por sua lealdade e confiança, Oxalá fez a casa de Exu na encruzilhada e como estava muito ocupado fazendo os seres humanos, ordenou que todos os outros Orixás apenas falaria com ele através de Exu e que todos antes de trazerem as oferendas a Ele também deveria fazer a oferenda a Exu. Assim foi feito. Todos que vinham até a casa de Oxalá tinham que "pagar" a oferenda a Exu, e todos que voltavam da casa de Oxalá também tinham que "pagar" Exu. Exu se tornou rico. Exu se tornou o mensageiro. Exu se tornou o dono da encruzilhada.
____________________________________________
Uma mulher que vendia suas coisas no mercado era a mais respeitada, a que mais vendia. Tinha sucesso em cima de sucesso. Mas se esqueceu de Exu, aquele que a ela tudo deu. Todo sucesso dela tinha sido Exu que tinha provido. Exu foi esquecido.
Em um dia qualquer no mercado vem até ela a notícia que sua casa estava em chamas, ela correu até sua casa e chegando lá não restava nada, apenas cinzas. Retornou ao mercado e quando chegou suas coisas haviam sido roubadas. Ela perdeu tudo. Todos agora riam da desgraça dela. Ela já não era mais reverenciada. Ela estava acabada. Exu estava vingado.
Ogum
Em Ifé, todos viviam em igualdade. Todos plantavam e caçavam. Porém suas ferramentas e armas eram frágeis, feitos com madeira ou metal mole.
Com o aumento da população em Ifé, começou a faltar comida, e então todos os Orixás se reuniram para decidir como desmatar o campo para aumentar a plantação.
Ossain foi o primeiro Orixá a tentar desmatar o campo, porém, suas frágeis ferramentas impediram seu sucesso. E assim foi com todos os Orixás.
Ogum, que conhecia o segredo do ferro, até então não havia se manifestado, e quando percebeu o fracasso dos Orixás, pegou seu facão e desmatou todo o campo.
Isso por muito tempo trouxe muita inveja aos outros Orixás pelo benefício que o ferro trazia não só a plantação, mas como também para a caça e a guerra.
Os Orixás ofereceram o reinado de Ifé para Ogum em troca do segredo do ferro. Ogum aceitou a proposta.
Os humanos também procuraram Ogum, e esse lhes ensinou o segredo da forja. Até que chegou o dia em que todos tinham sua lança de ferro.
Apesar de Rei, Ogum era um caçador.Certa ocasião saiu para caçar e passou muito tempo fora, e quando voltou estava todo sujo e maltrapilho, e então os Orixás o destituíram do reinado. Ogum se decepcionou com os Orixás.
Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeiras desfiadas pegou suas armas e partiu.
Bem distante dali, em Irê, Ogum construiu sua casa, embaixo de uma árvore de acocô, e lá ficou.
Os humanos que nunca esqueceram que foi Ogum quem lhes ensinou o segredo do ferro, ainda hoje celebram e louvam esse grandioso Orixá guerreiro.
Oxossi
O reino estava em festa. Na festa da colheita do primeiro inhame. Quando um pássaro mágico gigante pousou sobre o vilarejo, esse pássaro fora mandado pelas Iá Mi Oxorongá que não foram convidadas para o festejo. O rei convocou os melhores caçadores do reino e aquele que fracassasse seria punido com a morte. Oxotaborá, o caçador das cinquenta flechas, Oxotogi, o caçador das quarenta flechas, Oxotogum o caçador das vinte flechas e Oxotocanxoxô, o caçador de uma única flecha. Oxotaborá, Oxotogi e Oxotogum dispararam todas as suas flechas sem sucesso. Todos já temiam quando chegou a vez de Oxotocanxoxô. Sua mãe também com muito medo, foi consultar um babalaô e este falou: -Seu filho está a um passo da riqueza ou da morte. E a aconselhou em fazer um ebô que agradasse as feiticeiras. Foi sacrificada uma galinha, quando ela estava abrindo o peito da galinha o pássaro mágico relaxou o seu peito para receber a oferenda, neste momento seu filho Oxotocanxoxô, disparou sua única flecha que foi certeira no peito do pássaro mágico. Em comemoração o rei libertou todos os caçadores que falharam e o povo cantava chamando-o de Oxóssi que na língua local quer dizer "O Caçador Oxô é Popular".
____________________________________________
Olodumaré incumbiu Orunmilá a trazer-lhe uma codorna. Como para Orunmilá isso era uma tarefa difícil ele então passou esta tarefa a Oxóssi.
Oxóssi ficou agradecido por tal missão e prometeu que na manhã seguinte ele traria a codorna.
Na manhã, quando Orunmilá foi buscar a codorna, o caçador abre a porta da casa enfurecido, pois a codorna havia sumido. Perguntou a sua mãe e esta fez pouco caso. Orunmilá exigiu que Oxóssi fosse buscar outra codorna.
Oxóssi caçou outra codorna e a guardou no embornal. Procurou Orunmilá e eles se dirigiram até Olodumaré. Este agradecido fez de Oxóssi o Rei dos Caçadores. Oxóssi contente com o título pega seu arco e atira uma flecha ao acaso, dizendo que esta flecha iria acertar o coração de quem tivesse roubado a primeira codorna.
Chegando em casa, Oxóssi encontra sua mãe morta com uma flecha no coração, arrependido do que fizera Oxóssi nega o título recebido de Olodumaré.
Xangô
Oxum colocou uma condição para aceitar se casar com Xangô, disse que só seria sua esposa se Xangô carregasse seu Pai, Oxalá, que estava bem velho, pelo resto de sua vida e Xangô, apaixonado que estava pela doce Oxum, aceitou o trato.
Passado o casamento e as núpcias, Xangô teria que saldar sua dívida com Oxum, então Xangô desfez seu colar de contas vermelhas, que é sua cor, e refez o colar incluindo contas brancas, se dirigiu a Oxum e disse:
- Minha promessa está cumprida, veja, as contas vermelhas são minhas, as brancas são de Oxalá, portanto, de agora em diante eu sempre vou estar carregando seu pai no meu pescoço.
____________________________________________
Xangô a muito estava viajando com seu amigo Oxalufã. Como Oxalufã é muito velho, Xangô estava carregando o Orixá, ao passar pelas redondezas de Oyó resolveu subir em uma pedreira para mostrar ao velho amigo seu reino, e lá foi Xangô, até o topo da montanha com Oxalufã nas costas. Ao chegar no topo, enquanto apreciava seu reino, avistou sua esposa Oiá, fazendo seu amalá. Estão aí duas coisas que Xangô não resiste, a mulher e o amalá, e se pôs a correr montanha abaixo esquecendo completamente que carregava Oxalufã. Este por sua vez caiu, se esborrachando na pedreira e Xangô nem percebeu, só foi se dar conta do erro que cometera depois de saciada suas necessidades.
Iansã
Certa vez em uma festa nenhuma das moças presentes queria dançar com Obaluayê, quando Iansã chegou e viu que ele estava sozinho, convidou-o para uma dança, sua veste erguia com o vento de Iansã e todos puderam ver seu rosto, um jovem bonito e alegre, a partir de então Obaluayê declarou que seu reino (o reino dos mortos) seria também o reino de Iansã.
____________________________________________
Os Orixás estariam cansados de não ter acesso às folhas, tão importantes para qualquer celebração litúrgica e para muitos outros aspectos da vida material. Nesse aspecto, eram completamente dependentes de Ossãin, que reinava sozinho em seu domínio. Incitada por Xangô, Iansã abanou fortemente sua saia, provocando um terrível vento (o afefé) que arrancou todas as folhas que Ossãin tentava resguardar com o próprio corpo. A partir de então, as folhas foram repartidas e cada Orixá possui as suas próprias plantas, mas isso não retirou totalmente de Ossãin o seu poder.
____________________________________________
Iansã é sincretizada com Santa Bárbara e é interessante a relação de ambas com o raio, pois conta a história que a santa católica teria sido condenada a morte pelo seu próprio pai, no momento em que ele levantou a espada, ela suplicou aos céus , depois de sua morte, imediatamente um raio veio e o matou, o mesmo aconteceu com outros soldados presentes.
Oxum
Oxum era filha de Oxalá. Um dia casou-se com Xangô, indo viver em seu palácio.
Logo Xangô percebeu o desinteresse de Oxum pelos afazeres domésticos, pois a rainha vivia preocupada com suas jóias e caprichos.
Aborrecido, Xangô mandou prendê-la numa torre, sentindo-se livre novamente.
Exu, vendo a situação de Oxum correu e contou a seu pai Oxalá que, fazendo deste seu mensageiro, entregou-lhe um pó mágico que deveria ser soprado sobre Oxum.
Exu, que se transforma no que quer, chegou ao alto da torre e soprou o pó sobre Oxum que, no mesmo instante, transformou-se num lindo pombo dourado chamado Adabá, ganhando liberdade e voltando à casa paterna.
____________________________________________
Filha de Oxalá, Oxum sempre foi muito interessada em aprender de tudo um pouco. Como sempre foi muito manhosa e mimada, conseguia tudo o que queria do pai.
Certa vez decidiu que queria aprender a ver o seu futuro nos búzios. Foi pedir a seu pai que lhe aconselhou procurar Exu, pois tal poder havia sido concedido a ele por Ifá. Oxum foi procurar Exu que se negou a ensinar-lhe o seu segredo. Percebendo que Exu estava intransigente, Oxum resolveu procurar as feiticeiras da floresta para ensinar-lhe uma magia para enganar o Exu. Elas lhe deram um pó mágico que em contato com os olhos do Exu o deixaria cego por algum tempo.
Oxum, fingindo estar brincando com Exu, soprou o pó em seus olhos, que ficou desesperado em recolher os seus búzios. Oxum, demonstrando-se interessada, o ajudou a recolher peça por peça conferindo o nome e seus significados. Exu na ânsia de recolhê-los, foi falando todo o segredo dos búzios a Oxum sem se dar conta até chegar ao último Odu.
Muito inteligente, Oxum guardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino, deixando para trás um Exu com os olhos irritados e desconfiado que havia sido passado para trás.
Obá
Obá travou luta com Ogum, e ele sabendo da grande força da amazona belicosa, resolveu consultar Ifá (jogo de adivinhação), onde foi aconselhado a fazer uma mistura de espiga de milho e quiabo, jogando esta pasta no lugar marcado para a luta.
Chega o momento do combate e começam a brigar, Obá resiste até o ultimo momento, e não podendo mais se segurar, cai ao chão. Ogum para não se redimir e também não ser dado por vencido, mantém relações sexuais com ela ali mesmo, tornando-se assim seu cônjuge.
____________________________________________
Xangô, Orixá de grande virilidade tinha três esposas, Oxum, Oiá e Oba, sendo Obá a mais velha e menos interessante. Obá nunca se contentou em ver Oxum em toda sua vaidade e Oiá em toda sua jovialidade, armando-se dentro dela uma grande frustração, pois disputava com unhas e dentes o amor de Xangô.
Oxum da mesma forma queria ser sempre a primeira e única mulher de Xangô, tanto que prega uma peça em Obá.
Em certa ocasião, era vez de Oxum cozinhar para seu esposo, Oxum então enrola um pano em sua cabeça de forma que cobrisse as suas orelhas e no ensopado joga dois cogumelos parecidos com orelhas e diz a Obá que Xangô se apaixonaria cada vez mais por ela quando comesse as suas orelhas. Xangô chegou e deleitou-se com a comida e agradeceu a Oxum. Chegou a vez então de Obá cozinhar, ela realmente corta as suas orelhas e oferece a Xangô, que após experimentar e enojar-se pergunta a Obá o que era. Obá se explica e diz que foi Oxum que lhe ensinou a fórmula. Oxum presenciando tudo retira o pano da cabeça e cai na gargalhada. Obá não contém a sua fúria e ataca Oxum.
Xangô pra terminar aquela situação também se enfurece e lança raios, fazendo com que as duas fujam e se transformem em rios que levam os seus nomes. E dizem que, quando estes rios se encontram parecem realmente brigar. Em suas manifestações no candomblé, Obá vem com a mão direita encobrindo sua orelha. Onde estiver Obá, Oxum não se manifesta.
Ossain
Ossain detinha o segredo de todas as folhas, o que causava ciúmes nos demais Orixás. Então Xangô pede para Iansã lançar o vento sobre a mata para espalhar e trazer as folhas e assim foi feito. Quando Ossain se deu conta bradou Ewé O! Ewé O! e as folhas voltaram para ele, porém algumas delas já estavam em poder dos outros Orixás. Então Ossain permitiu que aquelas permanecessem com os Orixás, mas manteve o segredo sobre elas, assim, para que fossem utilizadas, todos ainda teriam de se voltar para ele e foi dessa maneira que Ossain conservou seu poder.
____________________________________________
Ossain conhecia o segredo das folhas e com elas podia realizar miraculosas curas. Sempre sabia qual folha, qual encantamento usar e carregava tudo consigo dentro de suas cabacinhas, sua fama sempre o precedia e assim percorria mundo afora realizando suas curas. Contam que certa vez ao entrar em um reino, conseguiu curar seu Rei que lhe prometera muitas riquezas, Ossain, porém recusou dizendo que somente poderia aceitar o que normalmente era pago aos médicos e aos feiticeiros. Depois de muita peregrinação voltou para casa onde encontrou sua mãe doente, mais uma vez com o poder das folhas conseguiu curar a mãe, contudo cobrou pelo feito realizado, para espanto de seus irmãos. Ossain era muito justo e sabia que o dinheiro fazia parte da magia - que era maior que ele - e assim continuou sua peregrinação pelo mundo.
Nanã
Olorum encarregou Oxalá de criar o homem e Oxalá começou suas tentativas se utilizando de diversos materiais diferentes, não obtendo resultado. Tentou com água, com ar, com fogo, com vinho de palma e nada, o homem se desmanchava, tentou com pedra, madeira e nada, ficava muito duro. Foi quando Nanã Buruquê apareceu para Oxalá e lhe trouxe a solução, trouxe a lama de seus domínios, com a qual o homem foi criado e finalmente funcionou.
____________________________________________
No Candomblé, os sacrifícios a Nanã não podem ser feitos com instrumentos de metal e o itã que explica esta quizila conta que todos os Orixás estavam reunidos para decidir qual era o mais importante entre eles, e quando todos estavam consentindo a favor de Ogum, pois ele teria inventado os instrumentos de metal como a faca, por exemplo, de grande valia para a humanidade, Nanã discordou, apanhou uma galinha e torceu seu pescoço com as próprias mãos, mostrando assim que não dependia da faca de Ogum.
Abaluaê
Em certa ocasião festiva entre os Orixás, Obaluayê participou utilizando uma roupa feita de palha da costa, o Aso Iko, para esconder suas feridas e deformações causadas pelas doenças.
No entanto, enquanto todos os outros Orixás dançavam, Obaluayê, apesar de jovem e muito habilidoso, preferia ficar parado para não correr o risco de exibir seu corpo debilitado.
Repentinamente, Oiá pega Obaluayê para dançar com ela, e Oiá faz soprar uma ventania que levanta as palhas da costa da roupa de Obaluayê, suas chagas ao mesmo tempo voam do seu corpo se transformando em pipocas e para espanto dos demais, se exibe um belo rapaz debaixo daquela roupa.
A gratidão de Obaluayê o faz dividir com Oiá seu domínio e poder sobre os mortos.
Yemanjá
Filha de Olokun, Iemanjá nasceu nas águas. Teve três filhos: Ogum, Oxossi e Exu.
Conta a lenda que Ogum, o guerreiro, filho mais velho, partiu para as suas conquistas; Oxossi, que se encantara pela floresta, fez dela a sua morada e lá permaneceu, caçando; e Exu, o filho problemático, saiu pela mundo.
Sozinha Iemanjá vivia, mas sabia que seus filhos seguiam seus destino e que não podia interferir na vida deles, já que os três eram adultos.
Comentava consigo mesma:
- Ogum nasceu para conquistar. É bravo, corajoso, impetuoso. Jamais poderia viver num lugar só. Ele nasceu para conhecer estradas, conquistar terras, nasceu para ser livre. Exu, que tantos problemas já me deu, nasceu para conhecer o mundo e dos três é o mais inconstante, sempre preparado surpresas; imprevisível, astuto, capaz de fazer o impossível, também nasceu para conhecer o mundo. Oxossi, meu querido caçula, bem que tentei prendê-lo a mim, mas no fundo sabia que teria seu destino. Ele é alegre, ativo, inquieto. Gosta de ver coisas belas, de admirar o que é bonito e é um grande caçador. Nasceu para conhecer o mundo também e não poderia segurá-lo...
Iemanjá estava perdida em seus pensamentos quando viu que, ao longe, alguém se aproximava. Firmou a vista e identificou-o: era Exu, seu filho, que retornara depois de tanto tempo ausente. Já perto de seu mãe, Exu saudou-a e comentou:
- Mãe, andei pelo mundo mas não encontrei beleza igual à sua. Na conheci ninguém que se comparasse a você!
- O que está dizendo, filho? Eu não entendo!
- O que quero dizer é que você é a única mulher que me encanta e que voltei para lhe possuir, pois é a única coisa que me falta fazer neste mundo!
E sem ouvir a resposta de sua mãe, Exu tomou-lhe à força, tentando violentá-la. Uma grande luta se deu, pois Iemanjá não poderia admitir jamais aquilo que estava acontecendo. Bravamente, resistiu às investidas do filho que, na luta, dilacerou os seis da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exu "caiu no mundo", sumindo no horizonte.
Caída ao chão, Iemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokun e ao Criador, Olorun. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo, dando origem aos mares.
Exu, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos Orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros, na corte.
Iemanjá que, deste modo, deu origem ao mar, procurou entender a atitude do filho, pois ela é a mãe verdadeira e considerada a mãe não só de Ogum, Exu e Oxossi, mas de todo o panteão dos Orixás.
Oxumaré
Xangô se casou com Oxum e descobriram que sua comunicação não andava bem, pois Xangô morava no alto da pedreira, quase no céu, já Oxum tinha seu palácio nas profundezas do rio. Para solucionar este problema, Xangô pediu a Oxumaré que ligasse a água do rio de Oxum até ele no céu, foi quando Oxumaré se tornou o arco-íris.
Existe um detalhe: para que não acontecesse uma seca na terra, Oxumaré resolveu fazer este favor a Xangô apenas durante seis meses do ano, para que nos outros seis meses, enquanto Oxumaré assumia a forma de serpente, Xangô tivesse que descer até a terra, trazendo assim as fortes chuvas, tempestades e trovões de raiva.
_____________________________
Oxumaré viveu entre os humanos e era um grande Babalaô, adivinhava de tudo e prestava serviços ao rei, um rei muito rico e ao mesmo tempo muito avarento, recompensando muito mal Oxumaré pelos seus préstimos e previsões. Foi quando Oxumaré procurou Ifá, pois queria descobrir uma forma de ganhar mais dinheiro. Ifá declarou que se Oxumaré fizesse-lhe uma oferenda o tornaria muito rico e assim foi Oxumaré fazer o ritual.
Enquanto Oxumaré realizava o ritual do ebó, o rei precisou dele e não o encontrou, decretando assim que ele estaria despedido. Oxumaré quase desacreditou de seu mestre Ifá, pois passava mais aperto do que antes do ebó.
Foi aí que uma rainha de outra corte ficou sabendo da disponibilidade de Oxumaré, e como sua fama de bom Babalaô corria por aquelas bandas, ela o chamou para tentar resolver problemas até então indissolúveis.
Oxumaré resolveu as perturbações da rainha, foi muito bem recompensado por ela e até o rei que o despedira resolveu voltar a se utilizar de suas previsões, só que agora melhor remuneradas.
Logunedé
Logunedé em certa feita resolve brincar nas águas revoltas regidas por Obá, outra mulher de Xangô como sua mãe Oxum, Obá aproveita a oportunidade para se vingar de Oxum e tenta matar Logunedé. Mas Oxum viu em sua peneira de búzios o que estava acontecendo e pediu a intervenção de Orunmilá, este por sua vez atende o pedido de Oxum, fazendo ebó para Obá e permitindo assim que os pescadores salvassem Logunedé. Por isso Logunedé ficou encarregado de proteger os pescadores e as navegações por rios de água doce.
____________________________________________
Houve um tempo em que as águas e a terra estavam no mesmo nível, não existia limites bem definidos e Logunedé, apesar de conhecer bem estes dois domínios, sempre encontrava dificuldade para se manter em um ou em outro sem se confundir. Um dia, depois de passar seis meses na água, tinha que voltar para a terra e se confundira novamente, foi então que voltou ao fundo do rio e começou a cavar incansavelmente. Com esta escavação, Logunedé criou as margens dos rios e córregos que passaram a ser o seu domínio e, portanto são seus lugares preferidos desde então para receber oferendas.
Oxalá
Oxalufã , era o rei de Ilu-ayê , a terra dos ancestrais na África .Um dia resolveu viajar em visita a seu velho amigo Xangô, rei de Oyó. Antes de viajar, consultou um babalaô, o adivinho, que lhe informou para não fazer a viagem que seria cheia de incidentes desagradáveis e acabaria mal. E fez ainda algumas recomendações: "Se você não quiser perder a vida durante a viagem, deverá aceitar fazer tudo que lhe pedirem sem se queixar das conseqüências que advirão. Será necessário que você leve três panos brancos, sabão e limo da costa".
Oxalufã partiu lentamente apoiado em seu grande cajado, chamado apaxorô. Ao cabo de algum tempo passado, foi vítima de alguns golpes e brincadeiras de Exu que se divertia as custas de Oxalá, onde até então manteve-se calmo, sem perder a paciência.
Logo que entrou no reino de Xangô, encontrou um cavalo perdido, que logo reconheceu este, por ter dado anos atrás de presente a Xangô o animal. Oxalufã tentou amansá-lo, mostrando-lhe uma espiga de milho para amarrá-lo e devolvê-lo a Xangô. Nesse instante passaram alguns servidores do palácio e gritaram: "Olhem o ladrão de cavalo! Miserável! Como os tempos mudaram, roubar nesta idade!" Agarraram Oxalufã, cobriram-lhe de pancadas e arrastaram-no até a prisão.
Oxalufã lembrando das recomendações do babalaô, permaneceu em silêncio. Ele não podia queixar-se. Então usou seus poderes, do fundo da prisão. Não choveu mais, as colheitas estavam comprometidas, o gado dizimado, as mulheres estéreis, as pessoas vítimas de doenças terríveis. Durante sete anos o reino de Xangô foi devastado.
Xangô por sua vez consultou um babalaô, para saber a razão de toda aquela desgraça. O babalaô respondeu: "Kabiyei Xangô, tudo isso é conseqüência de uma terrível injustiça, onde um velho sofre preso a sete anos." Xangô fez vir diante dele o tal ancião.
Você, Oxalufã! Êpa Êpa Babá ! Absurdo! Inacreditável, vergonhoso, imperdoável!
Não posso acreditar! E ainda por cima, preso por meus próprios servidores!
Chamem todos meus generais, meus cavaleiros, meus eunucos, meus músicos!
Chamem meus mensageiros e chefes de cavalaria! Meus caçadores, minhas mulheres e Yabás !
Povo de Oyó ! Todos e todas se vistam de branco em respeito ao rei que veste branco!
Todos guardem silêncio em sinal de arrependimento!
Vão todos buscar água no rio! É preciso lavar Oxalufã!
Êpa Êpa Babá !
É preciso que ele nos perdoe dessa ofensa feita!
Este episódio da vida de Oxalufã, é comemorado, a cada ano em todos terreiros de Candomblé da Bahia, no dia da "Águas de Oxalá", quando todos vestem branco e vão buscar água em silêncio para lavar os objetos sagrados de Oxalá.
Também com a mesma intenção, todos os anos, numa quinta-feira, uma multidão lava o chão da basílica dedicada ao Senhor do Bonfim.
Êpa Êpa Babá !
Nenhum comentário:
Postar um comentário